ONQOTÔ
Duração:
A perplexidade e a inexorável pequeneza do Homem diante da vastidão do Universo é o tema central de Onqotô, balé que, em 2005, marcou as comemorações dos 30 anos de atividade do Grupo Corpo. Assinada por Caetano Veloso e José Miguel Wisnik, a trilha sonora tem como ponto de partida uma bem-humorada discussão sobre a “paternidade” do Universo. De um lado, estaria a teoria do Big-Bang, a grande explosão primordial, cuja expressão consagrada pela comunidade científica mundial parece atribuir à cultura anglo-saxônica dominante a criação do Universo; e, de outro, uma máxima espirituosa formulada pelo genial dramaturgo (e comentarista esportivo) Nelson Rodrigues sobre o clássico maior do futebol carioca, segundo a qual se poderia inferir que o Cosmos teria sido “concebido” sob o signo indelével da brasilidade: “O Fla-Flu começou quarenta minutos antes do nada”.
Instrumentais ou com letra, os nove temas que compõem os 42 minutos de trilha estabelecem uma sucessão de diálogos rítmicos, melódicos e poéticos em torno das “cenas de origem” eleitas por seus criadores e do sentimento de desamparo inerente à condição humana.
Na coreografia criada por Rodrigo Pederneiras, verticalidade e horizontalidade, caos e ordenação, brusquidez e brandura, volume e escassez se contrapõem e se superpõem, em consonância (e, eventualmente, em dissonância) com a trilha musical, desvelando significados, melodias e ritmos que subjazem ao estímulo sonoro.
Urdida com tiras de borracha cor de grafite, a cenografia de Paulo Pederneiras funda um espaço cênico côncavo que sugere tanto um recorte do globo terrestre com seus meridianos quanto um oco, um buraco negro, o nada ou a anterioridade de tudo. Com todos os refletores fixados na estrutura metálica que sustenta a fileira de tiras, a luz projetada por Paulo Pederneiras imprime na cena uma iluminação que remete à dos estádios de futebol.
A figurinista Freusa Zechmeister transforma os bailarinos em uma massa anônima que se funde (e se confunde) com o espaço cênico, permitindo, deste modo, que coreografia e cenário exerçam plenamente sua tridimensionalidade.
coreografia: Rodrigo Pederneiras
música: Caetano Veloso e José Miguel Wisnik
cenografia e iluminação: Paulo Pederneiras
figurino: Freusa Zechmeister
Grupo Corpo celebrates 30 years of uninterrupted activities since 1975 with Onqotô, a choreography about human perplexity and inexorable pettiness before the vastness of the universe. The idea for the soundtrack written by Caetano Veloso and José Miguel Wisnik came up in the middle of a well-humored discussion about competing versions for the creation of the Universe. Wisnik and Veloso imagined the Big-Bang set against an ironic maxim coined by Nelson Rodrigues, the greatest Brazilian dramatist and sports commentator, to express the importance of the most traditional soccer match in Brazil: “the first Fla-Flu started forty minutes before the void.” So they jokingly thought of the great primeval explosion whose English name came to epitomize the Anglo-Saxon primacy in the scientific world that validates Anglo-Saxon cultural world supremacy being superseded by Rodrigues’ maxim, taken as proof of the unmistakably Brazilian character of the Cosmos in its conception. Then they wrote 42 minutes of instrumental tunes and songs for the soundtrack, building a sequence of rhythmic, melodic and poetical dialogues between those two “competing” primal scenes and, moreover, stressing the feeling of helplessness before the universe that is inherent to human condition.
The choreography by Rodrigo Pederneiras contrasts and juxtaposes verticality and horizontality, chaos and order, roughness and tenderness, and volume and sparseness, moving along and sometimes going against the soundtrack, unveiling underlying meanings, melody, and rhythms.
Paulo Pederneiras designed a curtain wall with vertically stretched dark leaden rubber straps, creating a concave space that implies at times a cross section of the globe, or a hollow, or a black hole, or nothingness or the primeval void. The stage lighting designed by Paulo Pederneiras makes reference to soccer stadiums with a series of spotlights attached to the metallic structure that sustains the curtain wall.
Costume designer Freusa Zechmeister turns the dancers into an anonymous mass that blends with the scenery, allowing thus that choreography and scenery come to the fore in their full three-dimensionality.
choreography: Rodrigo Pederneiras
music: Caetano Veloso and José Miguel Wisnik
set design & lighting: Paulo Pederneiras
costume design: Freusa Zechmeister